Dizem que, quando um tsunami atinge a terra firme, sempre há pessoas que estavam na praia, observando e admirando o mar antes de tudo acontecer. Essas pessoas não percebem o que está por vir. Elas contemplam a paisagem, que parece bela e aparentemente normal. Se o vento traz um assobio diferente, se as ondas se movem de maneira incomum, nada disso é notado. Ou, se por um breve momento alguém percebe algo estranho, logo ignora, convencendo-se de que é apenas um comportamento natural.
Mas, quando finalmente se dão conta de que tudo aquilo eram sinais de algo ruim prestes a acontecer, já é tarde demais. Nada mais pode ser feito, e a onda as atinge.
Há muita pressão por parte da sociedade sobre como se deve criar filhos, como se houvesse uma fórmula exata para isso. No entanto, a verdade é que não há um único caminho para alcançar o objetivo da criação ideal, que, em essência, busca realizar os desejos de uma mãe e um pai: filhos bem-criados, educados, bem-sucedidos e capazes de se sustentar. A única ação que, em minha opinião, todo pai e mãe devem adotar é escutar seus filhos.
Escutar é mais do que ouvir. Escutar, como o próprio dicionário define, é “estar consciente do que se ouve”. A falta de diálogo entre pais e filhos e a educação impositiva resultam em filhos amedrontados e retraídos, que dificilmente confiarão a seus pais seus sentimentos, dificuldades e angústias. E este último ponto é o mais preocupante. Os sentimentos de crianças e adolescentes devem ser observados com a máxima atenção e dedicação. Conversem com seus filhos, mas, sobretudo, escutem-nos, sem julgamentos ou repreensões. Sejam um porto seguro para eles.
Não é raro ver jovens retraídos e isolados em seus quartos, sem vontade de socializar ou interagir. Têm poucos amigos e, na maioria das vezes, pouco interesse por estudos, hobbies ou esportes. Culturalmente, esse cenário é muitas vezes visto como normal para adolescentes ou pré-adolescentes, mas será que realmente é? O olhar dos pais precisa ser treinado para entender que, no campo da saúde mental, há muitas nuances. No entanto, e aqui reside uma das tarefas mais difíceis, é preciso admitir quando é hora de buscar ajuda de profissionais da saúde mental. Ao fazer isso, os pais contribuem para uma mudança significativa: um ciclo preocupante de depressão, ansiedade ou transtornos neurológicos pode ser identificado, tratado e, se necessário, medicado. Isso permitirá que uma criança ou jovem alcance aquilo que dissemos no início: ser capaz de conduzir sua própria vida. Mas, para isso, a família precisa romper o ciclo do preconceito.
Vivemos em um ciclo vicioso na criação de filhos, nas referências de educação que seguimos. Entretanto, ao observarmos os dados alarmantes sobre jovens depressivos, ansiosos e, em casos extremos, com pensamentos suicidas — e um número preocupante dos que infelizmente cometem esse ato —, devemos acender um alerta. Chegou a hora de a geração de pais se autoavaliar, corrigir o curso da educação que tem oferecido e verificar a saúde da relação construída com seus filhos.
É hora de romper o ciclo e ir além do que nos foi ensinado. É romper o ciclo do silêncio entre pais e filhos, da autoridade impositiva, da recusa em admitir que seu filho pode precisar de um profissional para ajudá-lo adequadamente e, se necessário, oferecer o tratamento correto.
Não podemos achar normal que o amor dos pais imponha condições para amar um filho. Da mesma forma que filhos devem amar e honrar seu pai e sua mãe, pais devem fazer o mesmo ao amar incondicionalmente os seus filhos. Então, por que normalizamos por exemplo, pais que rejeitam seus filhos por causa de sua orientação sexual, se o próprio Deus não rejeita tais pessoas? Isso não é amor incondicional, conforme ensinado por Deus. Está na hora de reverter o processo Ninrode (Livro Selado de Moisés 7:9-15), abandonar a acepção de pessoas, a exclusão e os maus sentimentos, e viver sob o manto dos bons sentimentos, do amor que tudo espera, tudo suporta (1 Coríntios 13:7). O amor dos pais deve compreender que seus filhos podem ser quem quiserem ser.
É hora de quebrar o ciclo de preconceito sobre qualquer assunto e entender quem seu filho realmente é, não quem você supõe que ele ou ela seja. Quebre o ciclo de negação e olhe verdadeiramente para seu filho. Permita que ele ou ela mostre seu verdadeiro eu. Liberte seus filhos da tirania de seus preconceitos e preceitos e permita que eles sejam eles mesmos, porque, do contrário, continuaremos a ver jovens cada vez mais doentes e sem vontade de viver.
No entanto, devo esclarecer que o “ser quem é” deve sempre ser pautado por princípios e valores, como caráter, honestidade, bondade e verdade. Mas, se a personalidade ou orientação sexual de seu filho não prejudica ninguém, não infringe leis, não machuca ninguém, por que ele não poderia ser ele mesmo? Para se encaixar nos moldes de certo e errado de uma sociedade adoecida, que só produz pessoas tristes, depressivas e ansiosas devido aos seus preconceitos e preceitos?
Pontes são criadas através da boa comunicação. Pais e filhos poderão se curar do que o silêncio causou. Juntos, em família, poderão encontrar seus propósitos de vida e finalmente criar laços de amor, fidelidade e união como nunca. Diálogos salvam vidas.
Quebre o ciclo de impor aos seus filhos quais devem ser os sonhos deles e permita que eles estabeleçam seus próprios objetivos de vida a partir de agora. Rompa o ciclo de cobrar apenas uma profissão que traga retorno financeiro, e incentive uma profissão que eles amem, que seja seu propósito. A vida é muito mais do que ter, é sobre ser. Filhos precisam se tornar adultos funcionais, e isso só será possível se os pais romperem o ciclo das imposições da sociedade e começarem a ajudá-los a voar com suas próprias asas, através de seus próprios dons.
Os sinais podem estar aí, como os sinais de um tsunami que se aproxima rapidamente e, se ignorados, podem trazer consequências trágicas, quando nada mais poderá ser feito, assim é ignorar os sinais de que seus filhos estão sendo impedidos de atingirem seu pleno potencial e encontrar o seu propósito de vida.
Então, pais, vocês estão prontos para romper o ciclo?